Eu acho que o que pode “cavar a volta do b lsonaro” não é o Lula, mas um jornalismo que impulsiona desinformação e publica artigos de autores que não têm o devido conhecimento sobre o assunto abordado. Isto, potencializado pela falta de diversidade de posicionamento dos grandes jornais teve papel significativo para a formação da conjuntura de 2018.
Vejamos. A autora do artigo, comentarista política respeitada pela grande mídia, não compreende que o Lula “ache lindo ser rotulado como comunista”, e afirma que tal fato “trabalha contra ele e a favor do adversário, fortalecendo as versões de que vai implantar o comunismo e o Brasil vai virar uma Venezuela”.
Ainda segundo a autora, “o problema não é exclusivo de Lula e sim do País e dos democratas, que cobram responsabilidade e juízo para não alimentar os fantasmas que embalam autoritarismo, retrocesso, negacionismo”. Seguindo esta premissa, assumo que ao dizer do País, a autora também esteja incluindo a mídia e a si mesma. No entanto, ao se deparar com a informação sem evidências de que o Lula “vai implantar o comunismo e o Brasil vai virar uma Venezuela”, a autora ao invés de combater a desinformação, questionando a relação do projeto de governo do Lula com o comunismo, e o próprio medo do comunismo, sugere que o presidente deva se autocensurar quanto a tal declaração, alimentando ela mesma a narrativa que diz desejar combater. Pois ao dizer que o fato do Lula achar lindo ser chamado de comunista seria um indício ou evidência de que o Brasil será comunista e “uma Venezuela” ela mostra estar ao mesmo nível de conhecimento das pessoas que acreditam nestas histórias.
Um graduando de Filosofia ou Ciências Sociais, ou mesmo um aluno de ensino médio que tenha aulas com professores formados em Filosofia e Ciências Sociais sabe que é uma contradição dizer que determinado país será “uma Venezuela” e comunista. Simplesmente porque uma sociedade comunista significa precisamente uma sociedade que aboliu a divisão do trabalho. Esta é a definição de Morgan, utilizada por Marx. Definitivamente nem a Venezuela nem nenhuma sociedade industrializada jamais aboliu a divisão do trabalho, mesmo os governos marxistas nunca afirmaram ter alcançado uma sociedade comunista. O fato do partido no poder ser comunista, significa que eles defendem e pretendem alcançar o comunismo, mas de forma alguma significa que uma sociedade se torna comunista por ser governada por um partido que tem a palavra “comunista” no nome.
Tal abolição da divisão do trabalho, ainda segundo Marx, seria uma consequência inevitável do processo de industrialização, pois a automação torna o trabalho humano cada vez mais desnecessário e simples. Por isso o desemprego, por isso as crises do capitalismo. O próprio Estadão já publicou inúmeras materias sobre os impactos das inteligências artificiais no mercado de trabalho e suas consequências econômicas, sobretudo, o desemprego. Ser comunista significa propor que ao invés de excluir da economia o trabalhador afetado pelas novas tecnologias, cortando sua fonte de renda, e portanto fanzendo-o se submeter a condições cada vez mais degradantes de trabalho para sobreviver, devemos distribuir os benefícios que as máquinas trazem. O comunismo não é nada mais do que a consumação do processo de automação do trabalho. Quanto mais as máquinas substituem os homens, menos esses homens têm a necesidade de trabalhar. Se levarmos este processo às suas últimas consequências, as máquinas tornarão os processos de produção tão simples que não haverá necessidade de especialização alguma para exercer qualquer função, e por isso a divisão do trabalho seria abolida. O número de profissões seria reduzido e qualquer um poderia exercer qualquer uma dessas profissões, mudando de campo sem grandes consequẽncias. Seria portanto o fim da história, história essa entendida como um grande processo de desenvolvimento das forças produtivas, o encontro do homem consigo mesmo (com seu próprio projeto), sua identificação de-si e para-si. O fim das contradições e o início de uma nova história do homem, onde gozaremos da verdadeira liberdade, sem estar presos aos constrangimentos da natureza, sem a necessidade de políticos, patrões ou líderes de qualquer tipo, pois seriamos iguais em nossas funções e disporiamos dos mesmo saberes.
Podemos achar essas fabulações hegelianas uma grande baboseira. Eu também acho, e certamente a maioria dos pesquisadores marxistas contemporâneos também o acham. No entando, agora que entendemos o que significa “comunismo”, podemos entender que o medo do comunismo não faz o menor sentido e é uma baboseira ainda maior do que o historicismo hegeliano. Podemos até entender porque o Lula acha lindo ser chamado de comunista.
Quando alguém diz ter medo do “comunismo”, na verdade esta pessoa quer dizer que tem medo das experiências socialistas do século XX, que realmente foram terríveis, violentas, autoritárias. No entanto, socialismo não significa necessariamente uma ditadura, um governo autoritário, mas uma sociedade que aboliu a propriedade privada dos meios de produção, seja centralizando o controle da produção para o estado ou transformando as empresas em cooperativas. De qualquer forma, basta olhar para o projeto de governo do Lula apresentado na campanha e para as atas dos congressos do PT para entender que nada disto está sendo posto em pauta, nem comunismo, nem socialismo, nem ditadura. Os governos petistas ao longo dos anos foram sociais-liberais (um liberalismo de esquerda, como do partido democrata dos EUA) e desenvolvimentistas na economia, e nas relações internacionais assumiram uma postura anti-imperialista, buscando alianças com outros países em desenvolvimento e independência das “maiores democracias ocidentais, EUA e Europa”. Sem deixar, claro, de ser também uma democracia.
Ao invés de explicar isso e livrar o leitor de equívocos, a jornalista prefere dar voz aos delírios da extrema-direita e foi assim que esta chegou ao poder em 2018 e é assim que pode voltar em 2026. Não por causa dos deboches do Lula.
Essa lista pode ser bem perturbadora também.
Para pensar primeiro no futuro, há de se pensar no passado. O filme “Saudade do Futuro”, longa-metragem documental de Anna Azevedo estreou no Festival de Brasília parecendo estar em sintonia com o foco da 54ª edição. A seleção diz “o cinema do futuro e o futuro do cinema”. Pois bem, dito e feito, a cineasta reproduz os dizeres em formato espelhado, produzindo um documentário que poderia ser chamado de poético. Às vezes, de uma forma ensaísta. A obra é um híbrido desses dois para jogar na tela a palavra nostalgia como confluente dos países lusófonos.
Ficou famoso aquele mito e dizer sobre o português ser a única língua que a palavra saudade faz sentido. Que não possui tradução. É engraçado que tal funciona como um nacionalismo, ou melhor, um paternalismo do idioma. Uma chamada para priorizar as origens, concentrar a própria identidade portuguesa que na verdade é resultado de pressões galegas, castelhanas e asturo-leonesas. De fato, o uso vocabular dela é constante, o que reforça sua própria unidade como uma necessidade em si. Justifica-se, portanto, essa questão de priorizar uma defesa através da linguagem. E afinal, não há como negar, saudade é uma palavra linda e única, própria também do imaginário lusitano.
A partir desse comentário, a produção do filme de Anna Azevedo é realizada. A procura começa a ser realizada a partir de uma concepção de montagem de a mais b igual a c, isto é, existe uma relação entre os três países observados, Portugal, Brasil e Cabo Verde. A nostalgia, dada pelo mar, se traduz e especializa em uma saudade. As ondas, por sinal, marinhas, entregam uma espécie de sal poético, que vão e voltam. Agnès Varda adorava a praia e passava a mesma sensação que “Saudade do Futuro” entrega. O momento de maior impacto acaba se retendo no depoimento de três mulheres, uma delas mãe de Marielle Franco, Marinete da Silva. Existe uma dramaticidade misturada com a atmosfera que transforma a cena em pura emoção catalisada inclusive nas lágrimas do espectador.
As repetições, dadas pela edição, são momentos de solidez cinematográfica e de muito bom gosto. Outro momento de um interesse pelo menor, que na verdade é o resultado de mais interesse que a cineasta entrega, é o de uma montanha cheia de tijolinhos pintados, que espelham o morro. A diretora pede para crianças brincarem enquanto filma, passando por um momento em que as protagonistas são justamente aquelas que não possuem memória do passado. Mas elas se lembram e muito bem. Insere-se então a correlação de compreender o antes para o depois ser também entendível. O futuro, pois bem, é um relato que se desmancha no ar a partir de ações tão recentes (e também as originárias). O momento de força recai nas mãos de dois jovens, negros, recitando a Carta de Pero Vaz de Caminha. Proclamam não saber o que fazer e descreve muito bem uma geração cujas esperanças caem por terra tão facilmente. É esquisito como a comodidade e tolerância do mundo atual não parecem afetar o consequente. Ainda assim, reler a carta também traz um olhar possível positivo ao mundo. Um universo marejado, cujas águas sempre voltam aos personagens.
O ritmo, apesar de seguir uma lógica básica, parece que se prende muito em um conceito de rimas poéticas. Não possui estruturalmente falando, malemolência possível para conversar a respeito das próprias entraves. Portanto, passagens como em Portugal que é seu começo são um tanto pouco interessantes, enquanto o Brasil que, além de realidade próxima, é muito mais observada com atenção os pequenos intérpretes (o angolano Valter Hugo e Martinho da Vila estão no filme como meros coadjuvantes). Quando Anna Azevedo se prontifica a, como realizadora, se intrometer na película e sugerir ações, “Saudade do Futuro” brilha. É um cinema documental mais ativo, mais sugestivo e aplicado, que depende muito da própria autora. As escolhas acabam sendo próprias dela e o “eu” pode ser interpretado como um aplique dela própria dentro da tela. Talvez vá contra a lógica de alguns cineastas, mas quem sabe? Agnès Varda estava lá, no fim de sua vida, colocando espelhos na praia e pedindo para alguns andarilhos brincarem com os objetos. O brilho está aí, quem quiser que o aproveite muito bem, então.
Sete anos após o aclamado Encarnado, Juçara Marçal está de volta com seu segundo álbum solo. A cantora lançou recentemente o disco Delta Estácio Blues.
Na obra, a artista aborda temas que a representam enquanto mulher negra no Brasil atual tais como como racismo, negritude, feminino e ancestralidade.
O registro tem produção musical de Kiko Dinucci e traz forte presença de Juçara como compositora em todas as etapas e processos de criação. Novo Disco de Juçara Marçal
A artista participou ativamente das colagens eletrônicas que levaram às bases das músicas; letras, melodias, parcerias e poesias; nas variações e investigações que realiza sobre o próprio canto e voz.
A intenção aqui é explorar a música eletrônica fora dos clichês e gêneros já conhecidos, propondo novos cenários, investigações rítmicas e buscando um diálogo com o pop, sem deixar de lado a inquietude e a ligação estreita com a música brasileira.
O trabalho traz parcerias de composição com Tulipa Ruiz, Siba, Rodrigo Campos, Maria Beraldo e Douglas Germano, além de participação de Catatau na faixa que assinam juntos. Ogi compôs o single “Crash”.
O disco ainda conta com uma releitura de “La femme à barbe”, de Brigitte Fontaine e Jacques Higelin.
Poder da Música
Ao ouvir o álbum é possível sentir o poder transformador da música de diversas formas.
De forma envolvente, o disco se conecta com o ouvinte tanto através do instrumental poderoso quanto por suas letras, em uma mistura de camadas e comunicações que não é fácil de se atingir com um lançamento como esse.
Aqui, é como se a cada audição você descobrisse novas nuances, timbres e passagens, fazendo da experiência auditiva uma verdadeira viagem como nós todos fazíamos ao voltar pra casa com um CD na mão após tanta expectativa para comprá-lo.
Delta Estácio Blues, um dos melhores discos do ano, já está disponível em todas as plataformas de streaming.
https://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2021/10/22/jucara-marcal-delta-estacio-blues/
O Infinity ainda está funcionando.
O mesmo que faço todos os dias, tentar estudar.
Eu estou aqui porque prefiro o Lemmy mesmo, por razões de privacidade e políticas, migrei desde que vi que a diáspora ganhou tração. Porém, para a minha surpresa o Infinity e o libreddit, app e frontend que eu uso, continuam funcionando normalmente. Se eles parassem de funcionar eu simplesmente não iria mais acessar o r ddit, mas como eles estão funcinando vou continuar lurkando lá e postando cá. Detalhe, não postava com frequência no r ddit e nunca usava a plataforma logado por conta da privacidade, mas aqui no Lemmy me sinto muito à vontade para postar.
O próprio Feynman! https://edition.cnn.com/2014/08/09/opinion/urry-women-science/index.html
Desculpe a ignorância, mas é kilobit ou kilobyte?
Não consigo fazer o upload do avatar. Aparece essa mensagem: SyntaxError: JSON.parse: unexpected character at line 1 column 1 of the JSON data. A imagem é .jpg e pesa 235kB.
@ProzacGabriel@lemmy.eco.br Nome de usuário checa fora.
LOL
Realmente esse primeiro tem uma abordagem quase exaustiva. De qualquer jeito a revolução cubana em si é um assunto bastante complexo, exige algum esforço e interesse. Acho que o segundo livro seria mais adequado, tem só 120 páginas, é sintético mas não perde o rigor histórico.
Legal, bem a vibe dos foruns dos anos 2000. Vocês podem abrir um canal para doações também. Uma coisa que vem me incomodando um bocado no Lemmy é a falta de vídeos. Por que o lemmy não tem um player? Será que não dá pra incorporar players de serviços externos para podermos assistir os vídeos sem sair da página/aplicativo?
De Martí a Fidel: A revolução cubana e a américa latina. Luiz Alberto Moniz Bandeira. Civilização Brasileira
A revolução cubana. Luis Fernando Ayerbe. Editora UNESP.
Pois é, e estão desde 2016 pedindo autocrítica por parte do PT. 🤷♂️