O cachorro caramelo – cão sem raça definida (SRD) dono de uma coloração que passeia entre o dourado e o marrom – ficou famoso nas redes sociais e gerou diversos memes por seu carisma típico. No entanto, o melhor amigo do homem não é único que atrai fãs por sua autenticidade brasileira.

Entre os gatos, um perfil comum, que não se parece com um angorá ou um persa, por exemplo, pode esconder uma linhagem corriqueiramente chamada de ‘vira-latas’, mas que faz sucesso no exterior: é o brazilian shorthair (do inglês, pelo curto brasileiro).

Esse grupo foi desenvolvido pelo engenheiro Paulo Samuel Ruschi – fundador da Federação Brasileira de Gatos – e reconhecido oficialmente em 1998 por meio do World Cat Federation (WCF), uma associação internacional de clubes de gatos.

Anna Júlia Dannala é empresária e criadora de felinos há 13 anos. Seu gatil, em Valinhos (SP), é conhecido por comercializar o Savannah, híbrido do cruzamento entre os gatos domésticos e o serval, que podem custar até R$ 120 mil, e o Abissínio.

Gateira que é, ela também tem entre seus filhos felinos exemplares do pelo curto brasileiro. Ao g1, explicou que os gatos vistos nas ruas também podem ser dessa raça e detalhou como funciona o processo para que um animal possa ser reconhecido como de pedigree (documento que atesta a linhagem de um animal de raça pura).

Características que fazem sucesso 😻 Assim como outros animais com raça definida, o gato de pelo curto brasileiro tem suas próprias características e, por conta do seu temperamento dócil e amigável, a raça faz sucesso fora do país. Eles também são considerados inteligentes e bons caçadores.

Confira, abaixo, suas peculiaridades:

🐈 O corpo do gato tem tamanho médio e musculoso, sendo esguio e elegante. Sua cauda tem comprimento de média a longa, e o pescoço é firme - não sendo muito musculoso; 🐾 As pernas são médias e as patas são ligeiramente arredondadas; 🐱 A cabeça tem tamanho de pequena a média, e seu queixo e o maxilar inferior são fortes; 😽 Suas orelhas são grandes e eretas, sendo adornadas com tufos; 👀 Os olhos são grandes e arredondados; 🎨 A cor pode variar. Sua pelagem é curta e brilhante, ficando rente ao corpo, com textura sedosa e sem subpelo. Segundo Anna Júlia, apesar de aparentar ser um gato comum, como os que são vistos diariamente nas ruas, há mais facilidade de encontrar o brazilian shorthair em outros países. Isso está relacionado ao cuidado que criadores têm para garantir a “pureza” dos felinos (entenda mais detalhes abaixo).

Único do Brasil 🐾

Em 1500, para que as embarcações não ficassem infestadas de ratos e camundongos, os portugueses trouxeram gatos descendentes de uma espécie de felinos que deu origem ao que hoje são chamados gatos domésticos. Foram quase 500 anos até o reconhecimento da raça nacional.

Era necessário que alguém tornasse esses animais em uma raça pura. Em meados dos anos 80, o engenheiro Paulo Samuel decidiu definir um padrão genético para que os gatos, antes conhecidos como de rua, fossem reconhecidos como de raça.

Para Anna Júlia, como cada país tem gatos com características diferentes, eles conseguem torná-los de raça. “Os ingleses e os americanos transformaram os seus gatos de rua em gatos de raça. Então o british shorthair, que é o gato pelo curto britânico, são os gatos de rua da Inglaterra, e o american shorthair são os gatos de rua dos Estados Unidos”, conta.

Afinal, o que os diferencia do SRD? 🐈 De acordo com Anna Júlia, para que uma raça seja inscrita na federação, é preciso seguir alguns padrões nas características, como focinhos, olhos, orelhas, pernas, peso, além das texturas da pelagem, comprimento e, em alguns casos, cores.

😸 Resumindo, um gato só pode se tornar de raça após intervenção humana. Quando não há uma interferência, eles continuam sendo comuns independentemente das características.

“O que é gato comum? O que é raça pura? Então o que é sem raça definida? É um gato que não se tem origem dele, não se tem controle genético, não se tem uma intervenção humana nele. Os gatos que estão nas ruas, nos abrigos, nas ONGs, esses gatinhos aqui do Brasil e de outros países, não existe processo seletivo de genética”, explica. Dessa forma, a diferença está na genética: como os gatos de ruas se reproduzem sozinhos, não há um controle da linhagem. Para que o animal seja de pedigree, há gastos com veterinário e estudo para que eles sigam um padrão. É necessário ainda fazer o mapeamento da árvore genealógica – conhecer os pais, avós e bisavós dos felinos.

🐕 Vale dizer que os cachorros caramelo, apesar de serem tão característicos do país, nunca foram oficializados como raça.

“Como não houve humanos que acompanhassem esse gatinho (sem raça definida), ninguém sabe a origem dele. Então, quando se adota um gatinho de uma ONG ou resgata um gatinho das ruas, ninguém sabe a origem dele”, relata a dona do gatil. Apesar dos gatos de ruas serem iguais, como não houve um investimento em dinheiro e tempo, não tem como considerá-los de raça pura. “Todo gato tem valor, mas poucos gatos têm preço […] Os gatinhos que são obras da natureza são gratuitos e os cães igualmente”, afirma.

Além disso, a empresária avalia que é importante preservar as características, não só dos cachorros e gatos, mas também de outras espécies de animais. “A criação de animais de raça é conservação. Assim como as pessoas que se dedicam a preservar espécies selvagens em cativeiro, que é uma conservação, prevenção da extinção”.

“Criação de animais de raça é conservação da beleza, conservação de obras da natureza, que podem desaparecer se forem misturadas, ou se morrerem na natureza”, finaliza. *Sob supervisão de Yasmin Castro.V

  • Responsabilidade@lemmy.eco.brM
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    2 months ago

    Não gosto dessa abordagem de gourmetizar os bichinhos. Toda e qualquer engenharia genética cria um cenário de perpetuação de doenças e anomalias. Isso sem considerar a crueldade que é manter o bicho em cativeiro para dar cria.

    A melhor seleção genética é a seleção natural e nada vai me tirar isso da cabeça.

    • Noah Loren "Noren" @lemmy.eco.brOP
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      2 months ago

      Concordo completamente com você! Se o mesmo processo fosse feito utilizando seres humanos as pessoas achariam isso algo muito perturbador. Compartilhei a notícia por considera-la uma curiosidade interessante porque eu não sabia que existia uma raça de gato brasileira. Ela foi publicada no G1, defesa de direitos humanos e animais não são exatamente a linha editorial deles. Fico feliz que alguém tenha percebido a problemática na declaração final da matéria e se manifestado a respeito dela. :)

      • Responsabilidade@lemmy.eco.brM
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        2 months ago

        Eu vi essa notícia hoje cedo no G1 mesmo, daí quando eu abri eu estava animado porque meus gatinhos são Pelo Curto Brasileiro (na real são vira-latas, porque eu peguei eles das ruas, mas eles tem todas as características para ser PCB). Conforme fui lendo a notícia, foi me dando uma reviravolta no estômago e fui ficando enojado.

        Eu já tinha uma opinião muito forte sobre raças de cachorros, que eu também considero um abuso e a manutenção de uma forma de eugenismo animal. Daí lendo as declarações dessas pessoas que querem “perpetuar uma raça de gato”, isso foi me batendo uma coisa que eu fiquei: mano, pra quê? Qual é o objetivo dessa merda? O melhor bichinho é aquele que mora com a gente e não foi geneticamente selecionado.

        Tanto gatos quanto cachorros domésticos não precisaram de nenhum tipo de intervenção desse tipo para se tornarem domésticos. A seleção natural foi o suficiente para se incumbir disso e eles trazem o melhor da espécie deles. A partir do momento que a gente “congela” a evolução deles e passa a fazer isso artificialmente, a gente cria um ambiente semelhante ao que o Hitler queria fazer com os humanos. Um nojo.